quinta-feira, 9 de agosto de 2012

ASPECTOS ESTRUTURAIS DO POEMA



ASPECTOS ESTRUTURAIS DO POEMA
    
 Versificação:  É o conjunto de normas que ensinam  a fazer poemas belos e perfeitos segundo o  conceito dos antigos gregos. Para eles, beleza e perfeição são sinônimos de trabalhoso, detalhado, complexo e tudo aquilo que segue a um modelo, a um conjunto de normas. É, assim, a técnica ou a arte de fazer versos.
      Verso é cada uma das linhas que compõem um poema, possui número determinado de sílabas poéticas (métrica), agradável movimento rítmico (ritmo) e musicalidade (rima).
    
O conjunto de versos compõe uma estrofe, que pode ser:
 1. Monóstico: estrofe com um verso;
2. Dístico:  estrofe com dois versos;
3. Terceto:  estrofe com três versos;
4. Quarteto:  estrofe com quatro versos (ou quadra);
5. Quintilha: estrofe com cinco versos;
6. Sextilha: estrofe com seis versos;
7. Septilha: estrofe com sete versos;
8. Oitava: estrofe com oito versos;
9. Nona: estrofe com nove versos;
10. Décima: estrofe com dez versos.
Mais de dez versos: estrofe Irregular.
    
     O verso que se repete no início de todas as estrofes de um poema chama-se ANTECANTO e o que se repete no final, BORDÃO. O conjunto de versos repetidos no decorrer do poema chama-se ESTRIBILHO ou REFRÃO.
    
  Métrica é a medida ou quantidade de sílabas que um verso possui. A divisão e a contagem das sílabas métricas de um verso são chamadas de ESCANSÃO, que não é feita da mesma forma que a divisão e contagem de sílabas normais, pois, segundo a Versificação:

1) Separam-se e contam-se as sílabas de um verso até a última sílaba tônica desse verso.
Ex: Es|tou | dei|ta|do | so|bre| mi|nha| ma|la
      1      2         3    4    5      6     7     8     9      10 

2) Quando duas ou mais vogais se encontram no fim de uma palavra e começo de outra, e podem ser pronunciadas simultaneamente, unem-se numa só sílaba métrica.  Quando essas vogais são diferentes, o processo chama-se elisão e quando são vogais idênticas, crase.
Ex: E|la+es|ta|va|só (Elisão) e  fo|ge+e|gri|ta Crase)
        1      2     3    4    5                   1      2       3  

3) Geralmente, como acontece na divisão silábica normal, os elementos que formam um ditongo não podem ser separados e os elementos que formam um hiato devem ser separados na escansão de um verso. No entanto, se o poeta precisar separar os elementos de um ditongo (diérese) ou unir os de um hiato (sinérese), ele tem LICENÇA POÉTICA para que sua métrica dê certo. O mesmo acontece se ele precisar contar também até a última sílaba átona do verso.
     
Quanto à Métrica, um verso pode ser:
1. Monossílabo: verso com apenas uma sílaba;
2. Dissílabo: verso com duas sílabas;
3. Trissílabo: verso com três sílabas;
4. Tetrassílabo: verso com quatro sílabas;
5. Pentassílabo: verso com cinco sílabas, também chamado REDONDILHA MENOR;
6. Hexassílabo: verso com seis sílabas;
7. Heptassílabo: verso com sete sílabas, também chamado REDONDILHA MAIOR;
8. Octossílabo: verso com oito sílabas;
9. Eneassílabo:  verso com nove sílabas;
10. Decassílabo: verso com dez sílabas, também chamado de HEROICO;
11. Hendecassílabo: verso com onze sílabas;
12. Dodecassílabo: verso com doze sílabas, também chamado de ALEXANDRINO.

     Ritmo é o resultado da regular sucessão de sílabas tônicas e átonas de um  verso. Para os gregos, ele é um elemento melódico tão essencial para o  poema  quanto para a Música.
     O ritmo é binário ascendente quando há um som fraco seguido de um forte (fraco/FORTE): “A|nu|vem|guar|da+o|pran|to”
(Alphonsus de Guimaraens)

     O ritmo é binário descendente quando há um som forte seguido de um fraco (FORTE/fraco): “Te|nho|tan|ta|pe|na “ (Fernando Pessoa)

O ritmo é ternário ascendente quando há dois sons fracos seguidos de um forte (fraco/fraco/FORTE): “Tu|cho|ras|te+em|pre|sem|ça |da|mor|te”
(G. Dias)

O ritmo é ternário descendente quando há um som forte seguido de dois sons fracos (FORTE/fraco/fraco):
    “Fá|ti|ma|diz|que|não|to|ma|nem|pí|lu|la” (D.Pignatári)

     Os versos que não seguem as normas da Versificação quando à métrica e/ou ao ritmo são chamados de VERSOS LIVRES.
     
 Som ou RIMA também é para os antigos um elemento essencial para que um poema seja uma POESIA. A rima é a identidade e/ou semelhança sonora existente entre a palavra final de um verso com a palavra final de outro verso na estrofe. Foneticamente, uma rima pode ser perfeita - se houver identidade entre as terminações das palavras que rimam (neve/leve) – ou imperfeita, se houver apenas semelhança (estrela/vela). Morfologicamente, a rima é pobre quando as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical (coração/oração), e rica quando as palavras que rimam pertencem a  classes gramaticais diferentes (arde/covarde).
      Quanto à posição na estrofe, as rimas podem ser classificadas como:

a) emparelhadas ou paralelas (aabb)     
    “Vagueio campos noturnos    a          
     Muros soturnos                a           
     Paredes de solidão             b            
     Sufocam minha canção.”           b              
     (Ferreira Gullar)                                                 

b) cruzadas ou alternadas (abab)
“Se o casamento durasse      a
Semanas, meses fatais          b
Talvez eu me balançasse        a
Mas toda a vida... é demais!”       b
(Afonso Celso)

c) opostas, intercaladas ou interpoladas (abba)
     “Não sei quem seja o autor     a
     Desta sentença de peso          b
     O beijo é um fósforo aceso      b
     Na palha seca do amor!”              a       
(B. Tigre)

d) continuadas: consiste na mesma rima por todo o poema.

e) misturadas: são as rimas que não seguem esquematização regular.

f) VERSOS BRANCOS: são os do poema sem rima.

     Fazem parte do estudo do som ou rimas as FIGURAS DE HARMONIA OU DE EFEITO SONORO: aliteração, assonância, onomatopéia, paronomásia, parequema e o eco ou rima coroada.

POEMAS DE FORMA FIXA
      Alguns poemas apresentam forma fixa, o que já indica a preocupação formal do poeta em relação à sua obra e, assim, que ele segue à risca as normas da Versificação no momento da sua elaboração. São eles:

. Soneto: poema formado por dois quartetos e dois tercetos, normalmente composto por versos decassílabos e de conteúdo lírico;
. Balada: poema formado por três oitavas e uma quadra;
. Rondel: poema formado por duas quadras e uma quintilha;
. Rondó: poema com estrofação uniforme de quadras;
. Vilanela: poema formado por uma quadra e vários tercetos.
      Assim, para os clássicos, a obediência às normas ou técnicas aqui expostas é um dos itens mais importantes na classificação de um POEMA como POESIA.   



Esse conteúdo foi retirado do site www.educacional.com.br.

ARCADISMO


ARCADISMO 


O Arcadismo, ou Setecentismo (anos 1700) ou Neoclassicismo é o período que  caracteriza principalmente a Segunda metade do século XVIII porque o espírito reformista envolve este século numa valorização antropocêntrica, de um saber racional que reflete o desenvolvimento tecnológico, industrial, social e científico. Vive-se, agora, o Século das Luzes, o iluminismo burguês que prepara o caminho para a Revolução Francesa.

No início do século XVIII ocorre a decadência do pensamento barroco, para a qual colaboraram vários fatores: o exagero da expressão barroca havia cansado o público, e a chamada arte cortesã, que se desenvolvera desde a Renascença, atinge em meados do século um estágio estacionário e mesmo decadente, perdendo terreno para o subjetivismo burguês; o problema da ascensão burguesa supera a questão religiosa; surgem as primeiras arcádias, que procuram a pureza e a simplicidade das formas clássicas; no combate ao poder monárquico, os burgueses cultuam o "bom selvagem", em oposição ao homem corrompido pela sociedade do Ancien Régime ( o velho regime monárquico). Como se observa, a burguesia atinge a  hegemonia econômica e passa a lutar pelo poder político, então em mãos da monarquia. Isso se reflete claramente no campo social e artístico: a antiga arte cerimonial cortesã dá lugar ao gosto burguês.

O Arcadismo tem espírito nitidamente reformista, pretendendo reformular o ensino, os hábitos, as atitudes sociais, uma vez que é a manifestação artística de um novo tempo e de uma nova ideologia. No século XVIII a influência sobre Portugal vem da França devido a emancipação política da burguesia. Essa mesma burguesia é responsável pelo desenvolvimento do comércio e da indústria e já assistia a algumas vitórias na Inglaterra e Estados Unidos. Na França, a partir de 1750, os filósofos atacam o poder real e clerical e denunciam a corrupção dos costumes com grande violência. 

Em Portugal, o Arcadismo estende-se desde 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana, até 1825, com a publicação do poema "Camões", de Almeida Garret, considerado o marco inicial do Romantismo português.

No Brasil, considera-se como data inicial do Arcadismo o ano 1768, em que ocorrem dois fatos marcantes: a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, e a publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa. A Escola Setecentista desenvolve-se até 1808, com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, a qual, com suas medidas político-administrativas, permite a introdução do pensamento pré-romântico no Brasil.

- CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

 No século XVIII, o fortalecimento político da burguesia e o aparecimento dos filósofos iluministas formam um novo quadro sociopolítico-cultural, que necessita de outras fórmulas de expressão.

 Combate-se a mentalidade religiosa criada pela Contrarreforma, nega-se a educação jesuítica praticada nas escolas, valoriza-se o estudo científico e as atividades humanas, num verdadeiro retorno à cultura renascentista. A literatura tem por objetivo restaurar o equilíbrio por meio da razão.

Em meados do século XVIII surge na Inglaterra e na França uma burguesia que passa a dominar economicamente o Estado, através de um vasto comércio ultramarino e da multiplicação de estabelecimentos bancários, assenhoreando-se mesmo de uma parte da agricultura. Em toda a Europa tais circunstâncias são semelhantes, e as influências do pensamento burguês se alastram. Nesse momento, geram-se duas manifestações distintas, mas que se completam.

O momento poético nasce de um encontro, com a natureza e os afetos comuns do homem, refletidos através da tradição clássica e de formas bem definidas, julgadas dignas de imitação  ( Arcadismo); e o momento poético ideológico, que se impõe no meio do século, e traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.

Em 1748, Montesquieu publica O espírito das leis, obra na qual propõe a divisão do governo em três poderes ( Executivo, legislativo e Judiciário). Voltaire, como Montesquieu, relacionado com a alta burguesia, defende uma monarquia esclarecida. Em 1851, dirigido por Diderot e D'Alembert, aparece o Discours préliminaires de l'encyclopédie, cultuando a razão, o progresso e as ciências. Importante papel desempenhou Jean-Jacques Rousseau ( O contrato social; Emílio), defensor de uma governo burguês e do ideal de "bom selvagem “o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe"; portanto, o homem deveria voltar-se para o refúgio da natureza pura). É dentro desse quadro que se desenvolve o Iluminismo europeu, transformando o século XVIII no Século das Luzes, que resulta no despotismo esclarecido, governo forte dando segurança ao capitalismo mercantil da burguesia e preparando terreno para a Revolução Francesa.

 A influência neoclássica penetrou em todos os setores da vida artística europeia, no século XVIII.

 Na Itália essa influência assumiu feição particular. Conhecida como Arcadismo, inspirava-se na lendária região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pan e habitada por pastores que, vivendo de modo simples, e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer.

 Os italianos, procurando imitar a lenda grega, criaram a Arcádia em 1690 - uma academia literária que reunia os escritores com a finalidade de combater o Barroso e difundir os ideais neoclássicos. Para serem coerentes com certos princípios, como simplicidade e igualdade, os cultos literários árcades usavam roupas e pseudônimos de pastores gregos e reuniam-se em parques e jardins para gozar a vida natural.

 No Brasil e em Portugal, a experiência neoclássica na literatura se deu em torno dos modelos do Arcadismo italiano, com a fundação de academias literárias, simulação pastoral, ambiente campestre, etc.
 Esses ideais de vida simples e natural vêm ao encontro dos anseios de um novo público consumidor em formação, a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a vida luxuosa da nobreza nas cortes.

 - EXPRESSÃO ARTÍSTICA DA BURGUESIA

 Foi  nesse contexto de fermentação filosófica e lutas políticas que surgiu o Arcadismo, voltado para um novo público consumidor, formado pela burguesia e pela classe média. Como expressão artística dessas camadas sociais, o Arcadismo identifica-se com as ideias da Ilustração e veicula-as sob a forma de valores que se opõem ao tipo de vida levado pelas cortes aristocráticas e à arte que consumiam, o Barroco.
 Daí a idealização da vida natural, em oposição à vida urbana; a humildade, em oposição aos gastos exorbitantes da nobreza; o racionalismo, em  oposição à fé; a linguagem simples e direta, em oposição à linguagem rebuscada do Barroco. Esses valores artísticos e culturais assumiram, no contexto da sociedade europeia do século XVIII, um significado de clara contestação política, já que flagravam os privilégios da nobreza e do clero e propunham uma sociedade mais justa, racional e livre.

O Arcadismo pode ser visto, sob o ponto de vista ideológico, como um arte revolucionária. Contudo, do ponto de vista estético, é uma arte conservadora, pois ainda se liga à tradição clássica, tanto tempo cultivada pelas cortes aristocráticas.

- CARACTERÍSTICAS DO MOVIMENTO LITERÁRIO

A linguagem árcade é a expressão das ideias e dos sentimentos do artista do século XVIII. Seus temas e sua construção procuram adequar-se à nova realidade social vivida pela classe que a produzia e a consumia: a burguesia.
 Outras características da linguagem árcade que merecem destaque:

Características

 - Arte ligada ao Iluminismo. Oposição ao absolutismo despótico e ao poder (barroco) da Igreja.

-  Afirmação orgulhosa da racionalidade. Razão = Verdade = Simplicidade e clareza.

-  Culto da simplicidade. Como se atinge a mesma? Através da imitação (não no sentido de cópia, mas no de seguir modelos já estabelecidos).

 - Imitação dos clássicos gregos. Em especial, Virgílio e Teócrito, clássicos pastoris.

 - Imitação da natureza campestre, isto é, da ordem e do equilíbrio que essa natureza apresenta, o que dá a mesma um caráter de paraíso perdido. Dois elementos decorrem da aproximação do árcade da natureza campestre:

 - Bucolismo: adequação do homem à harmonia e serenidade da natureza.

- Pastoralismo: celebração da vida pastoril, vista como um eterno idílio entre pastores e pastoras.

 - Ausência de subjetividade. O autor não expressa o seu próprio eu, adota uma forma pastoril ( era comum os escritores usarem pseudônimos em seus poemas, sonetos e obras, como exemplo: Cláudio Manuel da Costa é Glauceste Satúrnio, Tomás Antônio Gonzaga é Dirceu,Basílio da Gama é Termindo Sipílio,)

- Amor galante. O amor é entendido como um conjunto de fórmulas convencionais.

fugere urbem ( fuga da cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam o bucolismo  como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distante dos centros urbanos. Tal princípio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean Jacques Rousseau, segundo o qual a civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom.

 aurea mediocritas ( vida medíocre materialmente mais rica em realizações espirituais): A idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade. Nestes versos de Tomás Antônio Gonzaga, por exemplo, são exaltados o trabalho manual e o sentimento, em oposição ao artificialismo e às facilidades da vida urbana:

 Se não tivermos lãs e peles finas,
Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas,
E os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido.

Ideias iluministas: como expressão artística da burguesia, o Arcadismo direciona certos ideais políticos e ideológicos dessa classe, no caso, ideais do Iluminismo. Os iluministas foram pensadores que defenderam o uso da razão, em contraposição à fé cristã, e combateram o Absolutismo.

Convencionalismo amoroso: na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um  mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos. O que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.

Carpe diem: o desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível, esta ideia  é retomada pelos árcades e faz parte do convite amoroso.

 - O ARCADISMO EM PORTUGAL

Para os portugueses, o século XVIII iniciou-se com um processo de modernização, através dos planos econômico, político, administrativo, educacional e cultural. A produção literária foi ampla e variada, incentivada principalmente pelas academias literárias árcades. A principal expressão literária desse período, Manuel Maria du Bocage, foi um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos,  Nas primeiras décadas desse século, chegaram a Portugal as ideias iluministas, que entusiasmaram intelectuais, artistas e até mesmo o rei D. João V e seu sucessor D.José I, que desejavam modernizar o país.

 Esse projeto deveria, ainda, satisfazer os interesses da burguesia mercantil e colonial, equiparando Portugal novamente às grandes nações europeias. Com amplos poderes, e, na condição de ministro, o Marquês, foi indicado a liderar essas ideias.

Com formação estrangeira, o Pe. Luis Antônio Verney, mudou significativamente o cenário científico e artístico português, usando projeto de reforma pedagógica. Suas ideias expostas na obra :Verdadeiro método de estudar (1764), em que o escritor, atacava a orientação que os jesuítas davam ao país. Criticava a arte barroca e seus adeptos, como o Pe. Vieira. Nem mesmo Camões escapou das críticas, que viam nas antíteses camonianas, traços da estética barroca.

 Essas críticas originaram um amplo debate sobre a necessidade de renovar a cultura portuguesa. Como decorrência desse período de agitação cultural, foi fundada a Arcádia Lusitana, em 1756, considerada o marco introdutório do Arcadismo em Portugal.

 As academias literárias

 As academias literárias eram agremiações que tinham por objetivo promover o debate permanente sobre a criação artística, avaliar criticamente a produção de seus filiados e facilitar a publicação de suas obras.

Portugal contou com duas importantes academias árcades: a Arcádia Lusitana, que efetivamente deu início ao movimento árcade em Portugal, e a Nova Arcádia (1790), que contou com o maior poeta português do século XVIII: Manuel Maria Barbosa du Bocage.

 O gênero literário predominante durante o Arcadismo português foi a poesia.

 Durante o século XVIII, dos escritores portugueses que mais se destacaram , um merece atenção especial:
 MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE: (Elmano Sadino)

 O poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage, também conhecido com o pseudônimo árcade de Elmano Sadino ( Elmano é um anagrama de Manuel e Sadino é relativo ao rio Sado, que corta a cidade de Setúbal, onde nasceu em 15 de setembro de 1765)Além das inúmeras experiências amorosas, ele viveu aventuras nas colônias portuguesas do Oriente como na Índia (Goa) e na China (Macau), teve quase o mesmo caminho que de Camões. Como ele, Bocage também se incorporou em companhias militares, lutou na guerra, naufragou, amou muitas mulheres e sofreu com elas, foi preso e morreu na miséria.

 Foi na lírica, em especial nos sonetos, que Bocage atingiu o ponto alto de sua obra, embora também tenha se destacado como poeta satírico e erótico.

Bocage é considerado o melhor escritor português do século XVIII e, ao lado de Camões e de Antero de Quental, um dos três maiores sonetistas de toda a literatura portuguesa. Isso ocorreu porque sua obra traduz o momento transitório que viveu (1765-1805), ou seja, um período marcado por mudanças profundas, como a Revolução Francesa (1789) e o florescimento do Romantismo. Assim, a obra de 
Bocage, em sua totalidade, não é árcade nem romântica: é uma obra de transição, que apresenta simultaneamente aspectos dos dois movimentos literários.


O ARCADISMO NO BRASIL(1768-1836)

 No Brasil, o rompimento com estética  barroca começou com a Publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. este movimento permaneceu como tendência literária até 1836, quando se inicia o Romantismo.

O Arcadismo também ficou marcado por dois aspectos centrais. O dualismo dos escritores brasileiros do século XVIII, que, ao mesmo tempo, seguiam os modelos culturais europeus e se interessavam pela natureza e pelos problemas específicos da colônia brasileira; e a influência das ideias iluministas sobre os escritores e intelectuais brasileiros, que resultou no movimento da Inconfidência Mineira e seus trágicos resultados: prisão, morte, exílio, enforcamento.

Como no Brasil não existiu uma Arcádia como em Portugal, a concentração do arcadismo brasileiro foi  principalmente em Vila Rica ( hoje Ouro Preto), Minas Gerais, onde um grupo de intelectuais se destacou na arte literária e na prática política, com grande participação na Inconfidência Mineira, seu aparecimento teve relação direta com o grande crescimento urbano verificado nas cidades mineiras do século XVIII, cuja base econômica era a extração de ouro. Este grupo era constituído por Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga,  Inácio José de Alvarenga Peixoto e outros.

 O crescimento espantoso dessas cidades favorecia tanto a divulgação de ideias políticas quanto o florescimento de uma literatura cujos modelos os jovens brasileiros - foram buscar em Coimbra, já que a colônia não lhes oferecia cursos superiores. E, ao retornarem de Portugal, traziam consigo as ideias iluministas que faziam fermentar a vida cultural portuguesa à época das inovações políticas e culturais do ministro Marquês de Pombal, adepto de algumas ideias da Ilustração.

 Essas ideias, em Vila Rica, levaram  vários intelectuais e escritores a desejarem  a independência do Brasil, principalmente após a repercussão da independência dos Estados Unidos da América ( 1776). Tais sonhos culminaram na frustrada Inconfidência Mineira ( 1789).

 Características do arcadismo no Brasil:

 - apego aos valores da terra: a simplicidade na poesia e a ideia de abolir as inutilidades( inutilia truncat) foram os objetivos dos árcades brasileiros. Como a concentração foi em Minas Gerais, nasce um nativismo que incorporou os valores da terra ao ideário da estática bucólica, em alta no arcadismo.

Incorporação do elemento indígena: a valorização do índio foi destaque  nesta época, era o reflexo do “bom selvagem”, de Rousseau, onde a natureza faz o homem feliz e bom, mas a sociedade o corrompe.

Sátira política:  um exemplo foi Cartas Chilenas, onde é bem clara a sátira política aos tempos difíceis da exploração portuguesa e à corrupção dos governos coloniais.

 Os árcades e a Inconfidência:

Os escritores árcades mineiros tiveram participação direta no movimento da Inconfidência Mineira. Chegados de Coimbra com idéias enciclopedistas e influenciados pela independência dos EUA, divulgaram os sonhos de um Brasil independente e contribuíram para a organização do grupo inconfidente. Esses escritores eram Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa.

Do grupo, apenas um homem não tinha a mesma formação intelectual dos demais nem era escritor: o alferes Tiradentes (dentista prático), maçom e simpatizante dos ideais iluministas.

 Com a traição de Joaquim Silvério dos Reis, que devia vultosas somas ao governo português, o grupo foi preso. Todos, com exceção de 
Tiradentes, negaram sua participação no movimento. Cláudio Manuel da Costa, segundo versão oficial, suicidou-se na prisão antes do julgamento.

 No julgamento, vários inconfidentes foram condenados à morte por enforcamento, dentre eles Tiradentes e Alvarenga Peixoto. Tomás Antônio Gonzaga e outros foram condenados ao exílio temporário ou perpétuo. Tiradentes assumiu para si a responsabilidade da liderança do grupo.

 No dia 20 de abril de 1792, foi comutada a pena de todos os participantes, excluindo Tiradentes, enforcado no dia seguinte. Seu corpo foi esquartejado e exposto por Vila Rica; seus bens, confiscados; sua família, amaldiçoada por quatro gerações; e o chão de sua casa foi salgado, para que dele nada mais brotasse.

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA:

 Cláudio Manuel da Costa ( 1729 - 1789), também conhecido pelo pseudônimo pastoral de Glauceste Satúrnio, nasceu em Mariana, Minas Gerais, e, depois de estudar no Brasil com os jesuítas, completou seus estudos em Coimbra, onde se formou advogado. Em Portugal, tomou contato com as renovações da cultura portuguesa empreendidas por Pombal e Verney. Ali também conheceu as novidades literárias trazidas pela Arcádia Lusitana.

 De volta ao Brasil, Cláudio Manuel da Costa exerceu em Vila Rica a carreira de advogado e administrador. Sua carreira de escritor teve início com a publicação de Obras Poéticas. Em 1789, foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira. Encontrado morto na prisão , a alegação oficial para a sua morte foi o suicídio.

 Com ampla formação cultural, Cláudio liderou o grupo de escritores árcades mineiros e soube dar continuidade apesar das limitações da colônia, a tradição de poetas clássicos. Seus sonetos apresentam notável afinidade com a lírica de Camões.

 O poeta cultivou  a poesia lírica e a épica. Na lírica tem destaque o tema de desilusão amorosa.

Na épica, Cláudio escreveu Vila Rica, poema inspirado nas epopeias clássicas, que trata da penetração bandeirante, da descoberta da minas, da fundação de Vila Rica e de revoltas locais. Suas obras podem ser melhor entendidas se forem analisadas do seguinte modo:

Poesia lírica:

uma poesia que serviu de transição entre o Barroco e o Arcadismo.

 no  Arcadismo, Cláudio Manuel da Costa demonstra o pastoralismo como uma renúncia à visão religiosa de mundo.

Em suas Obras, pelo fato da  paisagem não ser campestre há uma  quebra das convenções do período, ele apresenta cenários dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando as suas raízes mineiras. Pois ele recorre a fato que lembra a paisagem mineira.

 Tomás Antônio Gonzaga

 Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Portugal( Porto, 11/08/1744) e morou em Salvador, Bahia, entre os 7 e os 17 anos de idade.  Formou-se em Direito em Coimbra e permaneceu lá, até 1782, quando foi nomeado ouvidor( juiz) de Vila Rica e retornou ao Brasil. Logo tornou-se amigo de Cláudio Manuel da Costa, onde foi influenciado para a produção poética. Sua obra  lírica de maior destaque foi: Marília de Dirceu (um conjunto de liras).Esta poesia foi tipicamente árcade, visto que estava presa aos esquemas bucólicos e pastoris. Nesta obra Dirceu , o pastor, é também, um funcionário público, juiz, quarentão, que amava uma moça de uns 17 anos, e com o sonho da estabilidade de um lar burguês cheio de filhos. A obra foi escrita em três partes que correspondem a momentos históricos diferentes na vida do poeta. A I parte em liberdade, onde predominam as convenções neoclássicas, como os cortejos amorosos de pastores, as cançonetas anacreônicas, olocus amoenus, e as referências mitológicas. O pastor faz a corte à pastora Marília e tenta convencê-la da felicidade no casamento. Também ocorre a referência ao tema carpe diem, onde aparece a preocupação de Gonzaga com a própria idade. A II na prisão, é bem notada devido as referências biográficas, como : o cárcere, o processo judicial, o medo, a perspectiva da morte, a solidão, e o sentimento de injustiça. E a III provavelmente logo após o degredo para a África. A expressão sentimental da obra dá-se, na maior parte das liras. em alguns momentos das partes II e III, o autor escapa dos padrões árcades e desabafa a sua dor, o sentimento de medo do futuro e da morte e, sobretudo, a saudade de Marília. Nestes momentos, as liras adquirem um caráter pré-romântico.

 “ Eu tenho um coração maior que o mundo!
   Tu, formosa Marília, bem o sabes:
       Um coração...,e basta
      Onde tu mesma cabes;”

 LIRA IV
 “ Marília, teus olhos
são réus, e culpados
que sofra, e que beije
 os ferros pesados
de injustos Senhor.
   Marília, escuta
   Um triste pastor.
Mal vi teu rosto,
 O sangue geluo-se,
A língua prendeu-se,
Tremi, e mudou-se
Das faces a cor.
     Marília, escuta
     Um triste pastor.” 

 Ele também teve destaque com uma obra satírica, onde  sob pseudônimo de Critilo, satirizou os desmandos do governador de Minas Gerais, ou seja, faz ataques diretos ao despotismo do  Fanfarrão Minésio, em Cartas Chilenas.

 FREI SANTA RITA DURÃO

 uma de sua obras de destaque foi Caramuru

 Tema: A glorificação do colonizador branco e agente da catequese católica, Diogo Álvares Corrêia, que maravilhou os índios com um 
tiro de arcabuz na Bahia do século XVI, casando-se com a filha do cacique, Paraguçu, e passando a viver entre eles. Outros aspectos.
 Louvação do índio que se converte à religião do dominador luso e o auxilia na conquista da terra.

 A cena mais famosa da epopeia é a morte da índia Moema, após a partida para a França de Diogo Álvares e sua noiva, ParaguaçuMoema vai nadando atrás do navio até ser tragada pelas ondas.

Obs. Há nesta epopeia uma forte influência de Os Lusíadas, de Camões.





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Iluminismo
No século XVIII, um grupo de pensadores começou a se mobilizar em torno da defesa de ideias que pautavam a renovação de práticas e instituições vigentes em toda Europa. Levantando questões filosóficas que pensavam a condição e a felicidade do homem, o movimento iluminista atacou sistematicamente tudo aquilo que era considerado contrário à busca da felicidade, da justiça e da igualdade.

Dessa maneira, os iluministas preocuparam-se em denunciar a injustiça, a dominação religiosa, o estado absolutista e os privilégios enquanto vícios de uma sociedade que, cada vez mais, afastava os homens do seu “direito natural” à felicidade. Segunda a visão desses pensadores, sociedades que não se organizam em torno da melhoria das condições de seus indivíduos concebem uma realidade incapaz de justificar, por argumentos lógicos, sua própria existência.

Por isso, o pensamento iluminista elege a “razão” como o grande instrumento de reflexão capaz de melhorar e empreender instituições mais justas e funcionais. No entanto, se o homem não tem sua liberdade assegurada, a razão acaba sendo tolhida por entraves como o da crença religiosa ou pela imposição de governos que oprimem o indivíduo. A racionalização dos hábitos era uma das grandes ideias defendidas pelo iluminismo.

As instituições religiosas eram sistematicamente atacadas por esses pensadores. A intromissão da Igreja nos assuntos econômicos e políticos era um tipo de hábito nocivo ao desenvolvimento e ao progresso da sociedade. Até mesmo o pensamento dogmático religioso era colocado como uma barreira entre Deus e o homem. O pensamento iluminista acreditava que a natureza divina estava presente no próprio indivíduo e, por isso, a razão e o experimento eram meios seguros de compreensão da essência divina.

Inspirados pelas leis fixadas nas ciências naturais, os iluministas também defendiam a existência de verdades absolutas. O homem, em seu estado originário, possuía um conjunto de valores que fazia dele naturalmente afeito à bondade e igualdade. Seriam as falhas cometidas no desenvolvimento das sociedades que teria afastado o indivíduo destas suas características originais. Por isso, instituições políticas preocupadas com a liberdade deveriam dar lugar às injustiças promovidas pelo Estado Absolutista.

Por essas noções instalava-se uma noção otimista do mundo que não teria como interromper seu progresso no momento em que o homem contava com o pleno uso de sua racionalidade. Os direitos naturais, o respeito à diversidade de ideias e a justiça deveriam trazer a melhoria da condição humana. Oferecendo essas ideias, o iluminismo motivou as revoluções burguesas que trouxeram o fim do Antigo Regime e a instalação de doutrinas de caráter liberal.

Revolução Francesa
A Revolução Francesa marca o início da Idade Contemporânea.
No desenvolver do século XVIII existem dois importantes fatos históricos que marcaram esse período. De um lado temos a ascensão dos ideais iluministas, que pregavam a liberdade econômica e o fim das amarras políticas estabelecidas pelo poder monárquico. Além disso, esse mesmo século assistiu uma nova etapa da economia mundial com a ascensão do capitalismo industrial.
Nesse contexto, a França conviveu com uma interessante contradição. Ao mesmo tempo em que abrigou importantes personagens do pensamento iluminista, contava com um estado monárquico centralizado e ainda marcado por diversos costumes atrelados a diversas tradições feudais. A sociedade francesa estava dividia em classes sociais distintas pela condição econômica e os privilégios usufruídos junto ao Estado.
De um lado, tínhamos a nobreza e o alto clero usufruindo da posse das terras e a isenção dos impostos. Além disso, devemos salientar a família real que desfrutava de privilégios e vivia à custa dos impostos recolhidos pelo governo. No meio urbano, havia uma classe burguesa desprovida de qualquer auxilio governamental e submetida a uma pesada carga tributária que restringia o desenvolvimento de suas atividades comerciais.
A classe proletária francesa também vivia uma situação penosa. No campo, os camponeses eram sujeitos ao poder econômico dos senhores feudais e viviam em condições mínimas. Muitos deles acabavam por ocupar os centros urbanos, que já se entupiam de um amplo grupo de desempregados e miseráveis excluídos por uma economia que não se alinhava às necessidades do nascente capitalismo industrial.
Somados a todos estes fatores, a derrota francesa em alguns conflitos militares e as péssimas colheitas do final do século XVIII, contribuíram para que a crise econômica, e a desordem social se instalassem de vez na França. Desse modo, a década de 1780 veio carregada de contradições, anseios e problemas de uma nação que não dava mais crédito a suas autoridades. Temos assim, os preparativos da chamada Revolução Francesa.