ARCADISMO
O Arcadismo, ou Setecentismo (anos
1700) ou Neoclassicismo é o período que caracteriza principalmente a
Segunda metade do século XVIII porque o espírito reformista envolve este século
numa valorização antropocêntrica, de um saber racional que reflete o
desenvolvimento tecnológico, industrial, social e científico. Vive-se, agora, o
Século das Luzes, o iluminismo burguês que prepara o caminho para a Revolução
Francesa.
No início do século XVIII ocorre a
decadência do pensamento barroco, para a qual colaboraram vários fatores: o
exagero da expressão barroca havia cansado o público, e a chamada arte cortesã,
que se desenvolvera desde a Renascença, atinge em meados do século um estágio
estacionário e mesmo decadente, perdendo terreno para o subjetivismo burguês; o
problema da ascensão burguesa supera a questão religiosa; surgem as primeiras
arcádias, que procuram a pureza e a simplicidade das formas clássicas; no
combate ao poder monárquico, os burgueses cultuam o "bom selvagem",
em oposição ao homem corrompido pela sociedade do Ancien Régime ( o velho
regime monárquico). Como se observa, a burguesia atinge a hegemonia
econômica e passa a lutar pelo poder político, então em mãos da monarquia. Isso
se reflete claramente no campo social e artístico: a antiga arte cerimonial
cortesã dá lugar ao gosto burguês.
O Arcadismo tem espírito nitidamente
reformista, pretendendo reformular o ensino, os hábitos, as atitudes sociais,
uma vez que é a manifestação artística de um novo tempo e de uma nova
ideologia. No século XVIII a influência sobre Portugal vem da França devido a
emancipação política da burguesia. Essa mesma burguesia é responsável pelo
desenvolvimento do comércio e da indústria e já assistia a algumas vitórias na
Inglaterra e Estados Unidos. Na França, a partir de 1750, os filósofos atacam o
poder real e clerical e denunciam a corrupção dos costumes com grande
violência.
Em Portugal, o Arcadismo estende-se
desde 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana, até 1825, com a publicação do
poema "Camões", de Almeida Garret, considerado o marco inicial do
Romantismo português.
No Brasil, considera-se como data
inicial do Arcadismo o ano 1768, em que ocorrem dois fatos marcantes: a
fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, e a publicação de Obras, de
Cláudio Manuel da Costa. A Escola Setecentista desenvolve-se até 1808, com a
chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, a qual, com suas medidas político-administrativas,
permite a introdução do pensamento pré-romântico no Brasil.
- CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL
No século XVIII, o
fortalecimento político da burguesia e o aparecimento dos filósofos iluministas
formam um novo quadro sociopolítico-cultural, que necessita de outras fórmulas
de expressão.
Combate-se a mentalidade
religiosa criada pela Contrarreforma, nega-se a educação jesuítica praticada
nas escolas, valoriza-se o estudo científico e as atividades humanas, num
verdadeiro retorno à cultura renascentista. A literatura tem por objetivo
restaurar o equilíbrio por meio da razão.
Em meados do século XVIII surge na
Inglaterra e na França uma burguesia que passa a dominar economicamente o
Estado, através de um vasto comércio ultramarino e da multiplicação de
estabelecimentos bancários, assenhoreando-se mesmo de uma parte da agricultura.
Em toda a Europa tais circunstâncias são semelhantes, e as influências do
pensamento burguês se alastram. Nesse momento, geram-se duas manifestações
distintas, mas que se completam.
O momento poético nasce de um
encontro, com a natureza e os afetos comuns do homem, refletidos através da
tradição clássica e de formas bem definidas, julgadas dignas de imitação
( Arcadismo); e o momento poético ideológico, que se impõe no meio do século, e
traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
Em 1748, Montesquieu publica O
espírito das leis, obra na qual propõe a divisão do governo em três poderes (
Executivo, legislativo e Judiciário). Voltaire, como Montesquieu, relacionado
com a alta burguesia, defende uma monarquia esclarecida. Em 1851, dirigido por
Diderot e D'Alembert, aparece o Discours préliminaires de l'encyclopédie,
cultuando a razão, o progresso e as ciências. Importante papel desempenhou
Jean-Jacques Rousseau ( O contrato social; Emílio), defensor de uma governo
burguês e do ideal de "bom selvagem “o homem nasce bom, a sociedade é que
o corrompe"; portanto, o homem deveria voltar-se para o refúgio da
natureza pura). É dentro desse quadro que se desenvolve o Iluminismo europeu,
transformando o século XVIII no Século das Luzes, que resulta no despotismo
esclarecido, governo forte dando segurança ao capitalismo mercantil da
burguesia e preparando terreno para a Revolução Francesa.
A influência neoclássica
penetrou em todos os setores da vida artística europeia, no século XVIII.
Na Itália essa influência
assumiu feição particular. Conhecida como Arcadismo, inspirava-se na lendária
região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pan
e habitada por pastores que, vivendo de modo simples, e espontâneo, se
divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer.
Os italianos, procurando imitar
a lenda grega, criaram a Arcádia em 1690 - uma academia literária que reunia os
escritores com a finalidade de combater o Barroso e difundir os ideais
neoclássicos. Para serem coerentes com certos princípios, como simplicidade e
igualdade, os cultos literários árcades usavam roupas e pseudônimos de pastores
gregos e reuniam-se em parques e jardins para gozar a vida natural.
No Brasil e em Portugal, a
experiência neoclássica na literatura se deu em torno dos modelos do Arcadismo
italiano, com a fundação de academias literárias, simulação pastoral, ambiente
campestre, etc.
Esses ideais de vida simples e
natural vêm ao encontro dos anseios de um novo público consumidor em formação,
a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a vida luxuosa
da nobreza nas cortes.
- EXPRESSÃO ARTÍSTICA DA
BURGUESIA
Foi nesse contexto de
fermentação filosófica e lutas políticas que surgiu o Arcadismo, voltado para
um novo público consumidor, formado pela burguesia e pela classe média. Como
expressão artística dessas camadas sociais, o Arcadismo identifica-se com as
ideias da Ilustração e veicula-as sob a forma de valores que se opõem ao tipo
de vida levado pelas cortes aristocráticas e à arte que consumiam, o Barroco.
Daí a idealização da vida
natural, em oposição à vida urbana; a humildade, em oposição aos gastos
exorbitantes da nobreza; o racionalismo, em oposição à fé; a linguagem
simples e direta, em oposição à linguagem rebuscada do Barroco. Esses valores
artísticos e culturais assumiram, no contexto da sociedade europeia do século
XVIII, um significado de clara contestação política, já que flagravam os
privilégios da nobreza e do clero e propunham uma sociedade mais justa,
racional e livre.
O Arcadismo pode ser visto, sob
o ponto de vista ideológico, como um arte revolucionária. Contudo, do ponto de
vista estético, é uma arte conservadora, pois ainda se liga à tradição
clássica, tanto tempo cultivada pelas cortes aristocráticas.
- CARACTERÍSTICAS DO
MOVIMENTO LITERÁRIO
A linguagem árcade é a expressão das ideias
e dos sentimentos do artista do século XVIII. Seus temas e sua construção
procuram adequar-se à nova realidade social vivida pela classe que a produzia e
a consumia: a burguesia.
Outras características da
linguagem árcade que merecem destaque:
Características
- Arte ligada ao Iluminismo.
Oposição ao absolutismo despótico e ao poder (barroco) da Igreja.
- Afirmação orgulhosa da
racionalidade. Razão = Verdade = Simplicidade e clareza.
- Culto da simplicidade.
Como se atinge a mesma? Através da imitação (não no sentido de cópia, mas no de
seguir modelos já estabelecidos).
- Imitação dos clássicos gregos.
Em especial, Virgílio e Teócrito, clássicos pastoris.
- Imitação da natureza
campestre, isto é, da ordem e do equilíbrio que essa natureza apresenta, o que
dá a mesma um caráter de paraíso perdido. Dois elementos decorrem da
aproximação do árcade da natureza campestre:
- Bucolismo: adequação do homem
à harmonia e serenidade da natureza.
- Pastoralismo:
celebração da vida pastoril, vista como um eterno idílio entre pastores e
pastoras.
- Ausência de subjetividade.
O autor não expressa o seu próprio eu, adota uma forma pastoril ( era comum os
escritores usarem pseudônimos em seus poemas, sonetos e obras, como
exemplo: Cláudio Manuel da Costa é Glauceste Satúrnio, Tomás
Antônio Gonzaga é Dirceu,Basílio da Gama é Termindo
Sipílio,)
- Amor galante. O
amor é entendido como um conjunto de fórmulas convencionais.
fugere urbem ( fuga da
cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades defendiam
o bucolismo como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto
ao campo, distante dos centros urbanos. Tal princípio era reforçado pelo
pensamento do filósofo francês Jean Jacques Rousseau, segundo o qual a
civilização corrompe os costumes do homem, que nasce naturalmente bom.
aurea mediocritas ( vida
medíocre materialmente mais rica em realizações espirituais): A
idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e
triste na cidade. Nestes versos de Tomás Antônio Gonzaga, por exemplo, são
exaltados o trabalho manual e o sentimento, em oposição ao artificialismo e às
facilidades da vida urbana:
Se não tivermos lãs e peles
finas,
Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas,
E os panos feitos com as lãs mais
grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mãos
cosido.
Ideias iluministas:
como expressão artística da burguesia, o Arcadismo direciona certos ideais
políticos e ideológicos dessa classe, no caso, ideais do Iluminismo. Os
iluministas foram pensadores que defenderam o uso da razão, em contraposição à
fé cristã, e combateram o Absolutismo.
Convencionalismo amoroso:
na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala
de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre
é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar
a vida junto à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades
diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem,
de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais.
Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão
dos sentimentos. O que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção,
fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os
sentimentos. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial.
Carpe diem: o
desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível, esta ideia é
retomada pelos árcades e faz parte do convite amoroso.
- O ARCADISMO EM PORTUGAL
Para os portugueses, o século
XVIII iniciou-se com um processo de modernização, através dos planos econômico,
político, administrativo, educacional e cultural. A produção literária foi
ampla e variada, incentivada principalmente pelas academias literárias árcades.
A principal expressão literária desse período, Manuel Maria du Bocage, foi um
dos maiores poetas portugueses de todos os tempos, Nas primeiras décadas
desse século, chegaram a Portugal as ideias iluministas, que entusiasmaram intelectuais,
artistas e até mesmo o rei D. João V e seu sucessor D.José I, que desejavam
modernizar o país.
Esse projeto deveria, ainda,
satisfazer os interesses da burguesia mercantil e colonial, equiparando
Portugal novamente às grandes nações europeias. Com amplos poderes, e, na
condição de ministro, o Marquês, foi indicado a liderar essas ideias.
Com formação estrangeira, o Pe.
Luis Antônio Verney, mudou significativamente o cenário científico e artístico
português, usando projeto de reforma pedagógica. Suas ideias expostas na obra :Verdadeiro
método de estudar (1764), em que o escritor, atacava a orientação
que os jesuítas davam ao país. Criticava a arte barroca e seus adeptos, como o
Pe. Vieira. Nem mesmo Camões escapou das críticas, que viam nas antíteses
camonianas, traços da estética barroca.
Essas críticas originaram um
amplo debate sobre a necessidade de renovar a cultura portuguesa. Como
decorrência desse período de agitação cultural, foi fundada a Arcádia Lusitana,
em 1756, considerada o marco introdutório do Arcadismo em Portugal.
As academias literárias
As academias literárias eram
agremiações que tinham por objetivo promover o debate permanente sobre a
criação artística, avaliar criticamente a produção de seus filiados e facilitar
a publicação de suas obras.
Portugal contou com duas
importantes academias árcades: a Arcádia Lusitana, que efetivamente deu início
ao movimento árcade em Portugal, e a Nova Arcádia (1790), que contou com o
maior poeta português do século XVIII: Manuel Maria Barbosa du Bocage.
O gênero literário predominante
durante o Arcadismo português foi a poesia.
Durante o século XVIII, dos
escritores portugueses que mais se destacaram , um merece atenção especial:
MANUEL MARIA BARBOSA DU
BOCAGE: (Elmano Sadino)
O poeta português Manuel Maria
Barbosa du Bocage, também conhecido com o pseudônimo árcade de Elmano Sadino (
Elmano é um anagrama de Manuel e Sadino é relativo ao rio Sado, que corta a
cidade de Setúbal, onde nasceu em 15 de setembro de 1765)Além das inúmeras
experiências amorosas, ele viveu aventuras nas colônias portuguesas do Oriente
como na Índia (Goa) e na China (Macau), teve quase o mesmo caminho que de
Camões. Como ele, Bocage também se incorporou em companhias militares, lutou na
guerra, naufragou, amou muitas mulheres e sofreu com elas, foi preso e morreu
na miséria.
Foi na lírica, em especial nos
sonetos, que Bocage atingiu o ponto alto de sua obra, embora também tenha se
destacado como poeta satírico e erótico.
Bocage é considerado o melhor escritor
português do século XVIII e, ao lado de Camões e de Antero de Quental, um dos
três maiores sonetistas de toda a literatura portuguesa. Isso ocorreu porque
sua obra traduz o momento transitório que viveu (1765-1805), ou seja, um
período marcado por mudanças profundas, como a Revolução Francesa (1789) e o
florescimento do Romantismo. Assim, a obra de
Bocage, em sua totalidade, não é
árcade nem romântica: é uma obra de transição, que apresenta simultaneamente
aspectos dos dois movimentos literários.
O ARCADISMO NO BRASIL(1768-1836)
No Brasil, o rompimento com
estética barroca começou com a Publicação de Obras, de
Cláudio Manuel da Costa, em 1768. este movimento permaneceu como tendência
literária até 1836, quando se inicia o Romantismo.
O Arcadismo também ficou marcado
por dois aspectos centrais. O dualismo dos escritores brasileiros do século
XVIII, que, ao mesmo tempo, seguiam os modelos culturais europeus e se
interessavam pela natureza e pelos problemas específicos da colônia brasileira;
e a influência das ideias iluministas sobre os escritores e intelectuais
brasileiros, que resultou no movimento da Inconfidência Mineira e seus trágicos
resultados: prisão, morte, exílio, enforcamento.
Como no Brasil não existiu uma
Arcádia como em Portugal, a concentração do arcadismo brasileiro foi
principalmente em Vila Rica ( hoje Ouro Preto), Minas Gerais, onde um grupo de
intelectuais se destacou na arte literária e na prática política, com grande
participação na Inconfidência Mineira, seu aparecimento teve relação direta com
o grande crescimento urbano verificado nas cidades mineiras do século XVIII,
cuja base econômica era a extração de ouro. Este grupo era constituído por
Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Inácio José de Alvarenga
Peixoto e outros.
O crescimento espantoso dessas
cidades favorecia tanto a divulgação de ideias políticas quanto o florescimento
de uma literatura cujos modelos os jovens brasileiros - foram buscar em
Coimbra, já que a colônia não lhes oferecia cursos superiores. E, ao retornarem
de Portugal, traziam consigo as ideias iluministas que faziam fermentar a vida
cultural portuguesa à época das inovações políticas e culturais do ministro
Marquês de Pombal, adepto de algumas ideias da Ilustração.
Essas ideias, em Vila Rica,
levaram vários intelectuais e escritores a desejarem a
independência do Brasil, principalmente após a repercussão da independência dos
Estados Unidos da América ( 1776). Tais sonhos culminaram na frustrada
Inconfidência Mineira ( 1789).
Características do
arcadismo no Brasil:
- apego aos valores da
terra: a simplicidade na poesia e a ideia de abolir as inutilidades(
inutilia truncat) foram os objetivos dos árcades brasileiros. Como a
concentração foi em Minas Gerais, nasce um nativismo que incorporou os valores
da terra ao ideário da estática bucólica, em alta no arcadismo.
- Incorporação do
elemento indígena: a valorização do índio foi destaque nesta
época, era o reflexo do “bom selvagem”, de Rousseau, onde a natureza faz o
homem feliz e bom, mas a sociedade o corrompe.
- Sátira política:
um exemplo foi Cartas Chilenas, onde é bem clara a sátira política aos tempos difíceis
da exploração portuguesa e à corrupção dos governos coloniais.
Os árcades e a
Inconfidência:
Os escritores árcades mineiros
tiveram participação direta no movimento da Inconfidência Mineira. Chegados de
Coimbra com idéias enciclopedistas e influenciados pela independência dos EUA,
divulgaram os sonhos de um Brasil independente e contribuíram para a
organização do grupo inconfidente. Esses escritores eram Tomás Antônio Gonzaga,
Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa.
Do grupo, apenas um homem não
tinha a mesma formação intelectual dos demais nem era escritor: o alferes
Tiradentes (dentista prático), maçom e simpatizante dos ideais iluministas.
Com a traição de Joaquim
Silvério dos Reis, que devia vultosas somas ao governo português, o grupo foi
preso. Todos, com exceção de
Tiradentes, negaram sua participação no movimento.
Cláudio Manuel da Costa, segundo versão oficial, suicidou-se na prisão antes do
julgamento.
No julgamento, vários
inconfidentes foram condenados à morte por enforcamento, dentre eles Tiradentes
e Alvarenga Peixoto. Tomás Antônio Gonzaga e outros foram condenados ao exílio
temporário ou perpétuo. Tiradentes assumiu para si a responsabilidade da
liderança do grupo.
No dia 20 de abril de 1792, foi
comutada a pena de todos os participantes, excluindo Tiradentes, enforcado no
dia seguinte. Seu corpo foi esquartejado e exposto por Vila Rica; seus bens,
confiscados; sua família, amaldiçoada por quatro gerações; e o chão de sua casa
foi salgado, para que dele nada mais brotasse.
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA:
Cláudio Manuel da Costa ( 1729 -
1789), também conhecido pelo pseudônimo pastoral de Glauceste Satúrnio, nasceu
em Mariana, Minas Gerais, e, depois de estudar no Brasil com os jesuítas,
completou seus estudos em Coimbra, onde se formou advogado. Em Portugal, tomou
contato com as renovações da cultura portuguesa empreendidas por Pombal e
Verney. Ali também conheceu as novidades literárias trazidas pela Arcádia
Lusitana.
De volta ao Brasil, Cláudio
Manuel da Costa exerceu em Vila Rica a carreira de advogado e administrador.
Sua carreira de escritor teve início com a publicação de Obras Poéticas. Em
1789, foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira. Encontrado morto na
prisão , a alegação oficial para a sua morte foi o suicídio.
Com ampla formação cultural,
Cláudio liderou o grupo de escritores árcades mineiros e soube dar continuidade
apesar das limitações da colônia, a tradição de poetas clássicos. Seus sonetos
apresentam notável afinidade com a lírica de Camões.
O poeta cultivou a poesia
lírica e a épica. Na lírica tem destaque o tema de desilusão amorosa.
Na épica, Cláudio escreveu Vila
Rica, poema inspirado nas epopeias clássicas, que trata da penetração
bandeirante, da descoberta da minas, da fundação de Vila Rica e de revoltas
locais. Suas obras podem ser melhor entendidas se forem analisadas do seguinte
modo:
Poesia lírica:
- uma poesia que
serviu de transição entre o Barroco e o Arcadismo.
- no
Arcadismo, Cláudio Manuel da Costa demonstra o pastoralismo como uma renúncia à
visão religiosa de mundo.
- Em suas Obras, pelo fato da
paisagem não ser campestre há uma quebra das convenções do período, ele
apresenta cenários dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando
as suas raízes mineiras. Pois ele recorre a fato que lembra a paisagem mineira.
Tomás Antônio Gonzaga
Tomás Antônio Gonzaga nasceu em
Portugal( Porto, 11/08/1744) e morou em Salvador, Bahia, entre os 7 e os 17
anos de idade. Formou-se em Direito em Coimbra e permaneceu lá, até 1782,
quando foi nomeado ouvidor( juiz) de Vila Rica e retornou ao Brasil. Logo
tornou-se amigo de Cláudio Manuel da Costa, onde foi influenciado para a
produção poética. Sua obra lírica de maior destaque foi: Marília
de Dirceu (um conjunto de liras).Esta poesia foi tipicamente árcade, visto
que estava presa aos esquemas bucólicos e pastoris. Nesta obra Dirceu , o pastor,
é também, um funcionário público, juiz, quarentão, que amava uma moça de uns 17
anos, e com o sonho da estabilidade de um lar burguês cheio de filhos. A
obra foi escrita em três partes que correspondem a momentos históricos
diferentes na vida do poeta. A I parte em liberdade, onde predominam as
convenções neoclássicas, como os cortejos amorosos de pastores, as cançonetas
anacreônicas, olocus amoenus, e as referências mitológicas. O pastor faz
a corte à pastora Marília e tenta convencê-la da felicidade no casamento.
Também ocorre a referência ao tema carpe diem, onde aparece a
preocupação de Gonzaga com a própria idade. A II na prisão, é bem notada devido
as referências biográficas, como : o cárcere, o processo judicial, o medo, a
perspectiva da morte, a solidão, e o sentimento de injustiça. E a III
provavelmente logo após o degredo para a África. A expressão
sentimental da obra dá-se, na maior parte das liras. em alguns momentos das
partes II e III, o autor escapa dos padrões árcades e desabafa a sua dor, o
sentimento de medo do futuro e da morte e, sobretudo, a saudade de Marília.
Nestes momentos, as liras adquirem um caráter pré-romântico.
“ Eu tenho um coração maior
que o mundo!
Tu, formosa Marília, bem
o sabes:
Um coração...,e basta
Onde tu
mesma cabes;”
LIRA
IV
“
Marília, teus olhos
são
réus, e culpados
que
sofra, e que beije
os
ferros pesados
de
injustos Senhor.
Marília, escuta
Um triste pastor.
Mal
vi teu rosto,
O
sangue geluo-se,
A
língua prendeu-se,
Tremi,
e mudou-se
Das
faces a cor.
Marília, escuta
Um triste pastor.”
Ele também teve destaque com uma
obra satírica, onde sob pseudônimo de Critilo, satirizou
os desmandos do governador de Minas Gerais, ou seja, faz ataques diretos ao
despotismo do Fanfarrão Minésio, em Cartas
Chilenas.
- FREI SANTA RITA
DURÃO
uma de sua obras de destaque foi
Caramuru
Tema: A glorificação
do colonizador branco e agente da catequese católica, Diogo Álvares
Corrêia, que maravilhou os índios com um
tiro de arcabuz na Bahia do século
XVI, casando-se com a filha do cacique, Paraguçu, e passando a
viver entre eles. Outros aspectos.
Louvação do índio que se
converte à religião do dominador luso e o auxilia na conquista da terra.
A cena mais famosa da epopeia é
a morte da índia Moema, após a partida para a França de Diogo
Álvares e sua noiva, Paraguaçu. Moema vai
nadando atrás do navio até ser tragada pelas ondas.
Obs. Há nesta epopeia uma forte
influência de Os Lusíadas, de Camões.
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No século
XVIII, um grupo de pensadores começou a se mobilizar em torno da defesa de
ideias que pautavam a renovação de práticas e instituições vigentes em toda
Europa. Levantando questões filosóficas que pensavam a condição e a felicidade
do homem, o movimento iluminista atacou sistematicamente tudo aquilo
que era considerado contrário à busca da felicidade, da justiça e da
igualdade.
Dessa maneira, os iluministas preocuparam-se em denunciar a injustiça, a
dominação religiosa, o estado absolutista e os privilégios enquanto vícios de
uma sociedade que, cada vez mais, afastava os homens do seu “direito natural” à
felicidade. Segunda a visão desses pensadores, sociedades que não se organizam
em torno da melhoria das condições de seus indivíduos concebem uma realidade
incapaz de justificar, por argumentos lógicos, sua própria existência.
Por isso, o pensamento iluminista elege a “razão” como o grande instrumento de
reflexão capaz de melhorar e empreender instituições mais justas e funcionais.
No entanto, se o homem não tem sua liberdade assegurada, a razão acaba sendo
tolhida por entraves como o da crença religiosa ou pela imposição de governos
que oprimem o indivíduo. A racionalização dos hábitos era uma das grandes
ideias defendidas pelo iluminismo.
As instituições religiosas eram sistematicamente atacadas por esses pensadores.
A intromissão da Igreja nos assuntos econômicos e políticos era um tipo de
hábito nocivo ao desenvolvimento e ao progresso da sociedade. Até mesmo o
pensamento dogmático religioso era colocado como uma barreira entre Deus e o
homem. O pensamento iluminista acreditava que a natureza divina estava presente
no próprio indivíduo e, por isso, a razão e o experimento eram meios
seguros de compreensão da essência divina.
Inspirados pelas leis fixadas nas ciências naturais, os iluministas também
defendiam a existência de verdades absolutas. O homem, em seu estado
originário, possuía um conjunto de valores que fazia dele naturalmente afeito à
bondade e igualdade. Seriam as falhas cometidas no desenvolvimento das
sociedades que teria afastado o indivíduo destas suas características
originais. Por isso, instituições políticas preocupadas com a liberdade
deveriam dar lugar às injustiças promovidas pelo Estado Absolutista.
Por essas noções instalava-se uma noção otimista do mundo que não teria como
interromper seu progresso no momento em que o homem contava com o pleno uso de
sua racionalidade. Os direitos naturais, o respeito à diversidade de ideias e a
justiça deveriam trazer a melhoria da condição humana. Oferecendo essas ideias,
o iluminismo motivou as revoluções burguesas que trouxeram o fim do Antigo
Regime e a instalação de doutrinas de caráter liberal.
A Revolução
Francesa marca o início da Idade Contemporânea.
No desenvolver
do século XVIII existem dois importantes fatos históricos que marcaram esse
período. De um lado temos a ascensão dos ideais iluministas, que pregavam a
liberdade econômica e o fim das amarras políticas estabelecidas pelo poder
monárquico. Além disso, esse mesmo século assistiu uma nova etapa da economia
mundial com a ascensão do capitalismo industrial.
Nesse
contexto, a França conviveu com uma interessante contradição. Ao mesmo tempo em
que abrigou importantes personagens do pensamento iluminista, contava com um
estado monárquico centralizado e ainda marcado por diversos costumes atrelados
a diversas tradições feudais. A sociedade francesa estava dividia em classes
sociais distintas pela condição econômica e os privilégios usufruídos junto ao
Estado.
De um lado,
tínhamos a nobreza e o alto clero usufruindo da posse das terras e a isenção
dos impostos. Além disso, devemos salientar a família real que desfrutava de
privilégios e vivia à custa dos impostos recolhidos pelo governo. No meio
urbano, havia uma classe burguesa desprovida de qualquer auxilio governamental
e submetida a uma pesada carga tributária que restringia o desenvolvimento de
suas atividades comerciais.
A classe
proletária francesa também vivia uma situação penosa. No campo, os camponeses
eram sujeitos ao poder econômico dos senhores feudais e viviam em condições
mínimas. Muitos deles acabavam por ocupar os centros urbanos, que já se
entupiam de um amplo grupo de desempregados e miseráveis excluídos por uma
economia que não se alinhava às necessidades do nascente capitalismo
industrial.
Somados a
todos estes fatores, a derrota francesa em alguns conflitos militares e as
péssimas colheitas do final do século XVIII, contribuíram para que a crise
econômica, e a desordem social se instalassem de vez na França. Desse modo, a
década de 1780 veio carregada de contradições, anseios e problemas de uma nação
que não dava mais crédito a suas autoridades. Temos assim, os preparativos da
chamada Revolução Francesa.